Maranhão sedia o II Encontro
Norte-Nordeste de Informática Inclusiva
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Apresentação do Quimivox |
São Luís teve a
honra de sediar o II Encontro Norte-Nordeste de Informática Inclusiva com o Uso
do Dosvox. O evento ocorreu entre os dias 01 e 03 de maio e teve como objetivos
proporcionar às pessoas com deficiência visual das Regiões Norte e Nordeste
participarem de um encontro sobre informática inclusiva e atrair profissionais
de diversas áreas do conhecimento e gestores públicos interessados nos direitos
e na independência dos cidadãos com deficiência visual destas Regiões.
Sob a
realização da Associação dos Deficientes Visuais do Maranhão - ASDEVIMA e do
Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
foram apresentados métodos, recursos e instrumentos de inclusão digital que
proporcionam a integração social de pessoas com deficiência visual (NVDA,
Dosvox e outros softwares específicos).
Após seu retorno do evento, o Prof. José Antonio Borges encaminhou
uma comunicação à comunidade Dosvox sobre a importância da realização do Encontro
Norte/Nordeste.:
“Olá amigos,
Quero aqui falar sobre um aspecto particular deste evento. Ele me
deixou claro, inequívoco, que vivemos em um país de contrastes.
Nós vemos hoje, na região sul e sudeste, especialmente, um
avanço
enorme na Informática para cegos. Não é apenas o Dosvox que se tornou
realidade, mas um imenso arsenal de sistemas e equipamentos que
modificaram a vida de milhares de pessoas cegas e com baixa visão, e
isso aconteceu em menos de 20 anos. Mas os problemas que existem
aqui, são totalmente distintos dos problemas encontrados nas cidades
do interior do Norte e Nordeste.
Nos últimos encontros Dosvox, em especial no último,
realizado no
Rio de Janeiro, pudemos constatar que a ação precisa ser diferenciada,
ou o avanço conseguido por uma enorme massa de cegos do sul e sudeste
não alcançará uma quantidade muito maior de pessoas que ainda estão
totalmente desinformadas e desassistidas tecnologicamente.
Enquanto muitos dos cegos de cidades como Rio, São Paulo,
Recife ou
Campinas vivenciam a pujança tecnológica, as múltiplas e caras opções
que são hoje dadas aos deficientes visuais, muitos dos cegos de
cidades como São Luís, sequer são alfabetizados porque suas famílias
temem que ao dar-lhes estudo, farão com que percam seu benefício único
que sustenta a família.
De certa forma, então, eu me sinto frustrado em não poder
oferecer
àquelas pessoas o que é importante para elas, e que não é a
super-informática, os últimos avanços tecnológicos, a computação em
nuvem, a comunicação em altíssima velocidade, a virtualização que tudo
consegue modificar, mas sim, a computação mais simples, mais social,
mais pedagógica, com o olhar cultural, com a percepção de que a
defasagem existe e que pode ser minimizada com ações concretas. Em
muitas cidades há cegos que nunca viram um computador falante.
Inúmeros professores de muitas regiões estão muito desinformados de
quanto o computador pode ajudar a uma pessoa com deficiência visual, e
qual é seu papel neste processo. Muitos políticos que poderiam
exercitar ações socializantes com o uso da informática e da internet
para deficientes visuais não o fazem por total desconhecimento do que
pode ser feito e na vantagem imensa que isso traz.
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Prof. Antonio Borges em São Luís |
Muitos exemplos eu conheci ao vivo, como o do Sr. Salomão,
que teve a
petulância de se candidatar a vereância de uma pequena cidade, e que
foi sumariamente recusado por ser analfabeto e cego. E este mesmo
cego perdeu a paciência e usou o Dosvox para aprender a ler, sozinho,
sem ninguém na cidade para ajudar. Eu nunca acreditei que isso fosse
possível, até que vi um homem me contar sua história, e depois
contá-la em plenário, arrancando lágrimas da platéia por perceberem a
importância do Dosvox no interior do país é transcendental, e que nós
nunca demos importância às pessoas cegas que lá vivem, onde a cultura
é só um longínquo eco, e o computador um sonho impossível. Esse mesmo
cego que hoje não quer mais ser vereador, entendendo que pode prestar
muito melhor serviço fundando uma associação de assistência, educação
e desporto para cegos numa imensa região em que não há nada,
absolutamente nada, para deficientes visuais.
Senti imensa falta de mais professores, gestores e
políticos, e tive a
nítida impressão de que nós, neste momento, mesmo em eventos de grande
visibilidade, estamos direcionando nossas ações apenas para quem já
conhece e participa da história de transformação dos cegos. Nós nos
esquecemos de quem não conhece ainda nada de progresso da cultura
tiflológica, não teve sua vida mudada pela tecnologia, e com
frequência, não acredita que os cegos tenham algum papel a cumprir, a
não ser receber o BPC que sustenta a família pobre.
Me refiro não apenas às ações capitaneadas pelo projeto Dosvox, mas a
todas as instituições formais de ensino, a todos os professores que
podiam estar mudando o patamar da vida de tanta gente, de todos os
gestores que podiam estar promovendo ações educativas, de treinamento
e de multiplicação sobre tecnologia assistiva, e de todas as
instituições formais de apoio a cegos que poderiam, mas não promovem,
ações de disseminação da escrita braille e da tecnologia assistiva.
Não fazem, frequentemente, não porque não queiram, mas porque têm
noção de que o acesso à educação amplificada pela computação, pode
alavancar de forma total o potencial de tantos indivíduos no nosso
país.
Posso me exprimir aqui de forma utópica, mas sinto que é preciso mudar
isso: precisamos falar com cada pessoa que possa multiplicar as idéias
de progresso para os cegos do interior, levando um mínimo de
informação sobre a escrita Braille e sobre o Dosvox (que em algum
momento devem ser também associados a outras tecnologias), na medida
em que podem ser promotores de ações que podem gerar profundas
transformações sociais em imensas regiões totalmente desassistidas.
Em síntese, em muitas regiões, o estágio das pessoas cegas
em relação
a informática é equivalente a pelo menos 10 anos atrás do que se
atingiu hoje em outras regiões. É preciso fazer algo para mudar isso,
e fazer já!
Um comentário. E a região centro-oeste? Esta
também deve merecer um
encontro regional e sei que isso vai acontecer. Confiamos em
importantes órgãos como, por exemplo, a Abedev, entre outras
associações situadas nesta importante região do Brasil, para que
igualmente façam florescer iniciativas como as do Norte-Nordeste, na
querida região centro-oeste.
Saio dali renovado, com a reiterada certeza de que a
missão do projeto Dosvox está apenas começando, e não terminando como
muitos teimam em afirmar.
Parabéns, Paulo Roberto e Muniz, por terem assumido esta
importante missão. Contem comigo para o que der e vier, pois as
pessoas com deficiência visual não podem absolutamente ser divididas
naquelas que tudo podem e naquelas que estão totalmente ausentes do
que a tecnologia oferece em prol da melhoria de suas vidas.
Grande abraço, cheio de ternura e amor pelo nosso grande
Brasil, onde
há tanto que fazer.
Antonio Borges”